MEMÓRIA PEDERNEIRAS:
ARTE CEMITERIAL
As pessoas que frequentaram o Cemitério Municipal de Pederneiras no último Dia de Finados (02), puderam observar a nova pintura do Cruzeiro e do Necrotério, além da limpeza e pintura das sarjetas. A funcionária Fabiana Tozato Escola acompanhou dia a dia essas melhorias e me sugeriu uma pesquisa sobre as curiosidades do cemitério. Me lembrei das visitas noturnas realizadas no cemitério de Jaú para contemplar a arte cemiterial e também realizar contação de histórias. Essa prática começou com o saudoso historiador Julio Cesar Polli e foi continuada pelo arqueólogo Fábio Grossi dos Santos. Não posso deixar de mencionar também que várias pesquisas universitárias já foram realizadas em todo o Brasil abordando a arte cemiterial em diversas épocas e os “santos de cemitérios” tradicionais em nossa cultura popular.
Inspirada pela sugestão da Fabiana, convidei a professora de educação artística Eunice Maria Furlani Nicolielo e sua colega de faculdade e artista plástica, Wanda Ferreira Cardim, para realizar uma breve pesquisa artística tumular no cemitério municipal.
Segundo a Dra. Clarisse Ismério, “os cemitérios são museus a céu aberto devido à riqueza de seu acervo e são provas concretas da opulência econômica e política das cidades. Mas não podemos ignorar que são excelentes instrumentos de educação patrimonial e instrumento de alfabetização cultural, na medida em que possibilita a reconstituição do conhecimento e a apropriação dos valores e significados”. Depois dessa pesquisa, passei a ver os túmulos do Cemitério Municipal como verdadeiras obras de arte e que possuem muitas curiosidades.
O atual cemitério municipal foi inaugurado em 1905. Em 1959, o ex-prefeito Michel Neme iniciou o calçamento e remodelação do mesmo e em 1967 ordenou a construção da entrada principal, mais calçamento, arborização e modelação da praça fronteiriça. A estátua que está na entrada da capela foi doada pela família de Michel Neme. Já em 1982, o ex-prefeito Waldomiro Fernandes Mateus ampliou a área do cemitério, construiu o cruzeiro, fez muramentos e outras melhorias.
Para entender os detalhes artísticos, Eunice montou um roteiro resumido das principais características artísticas. São elas:
Românica
• Construções sólidas, pesadas, arrimo de apoio lateral
• Figura de Cristo sempre maiores que as demais
• Construção em formato de cruz
• Arco pleno
• Arcos e abóbadas com a Pedra Angular
• Às vezes, há rosáceas sobre a porta principal
Renascentista
• Fachada terminando em triângulo
• Realismo: estudo preciso da anatomia
Escultura Renascentista - Cristo Ressuscitado em bronze
Barroco
• Coluna com capitel decorado
• Curvas e contornos
• Uso de ornatos, tal como a talha (ornato entalhado em pedra) no entorno e sobre as portas
• Linhas em formato de conchas
Egípcia
• Imitação da casa dos vivos
• As vezes imitação de suas residências com estatuetas, vasos e mobília
Árabe
• Arco em forma de ferradura; 3 arcos
Gótico
• Muitas colunetas
• Arco em Ogiva (flecha)
• Rosácea
• Torres pontiagudas, buscando os céus para falar com Deus
• Florais – elementos decorativos em forma de flor esculpida em pedra
• Vitrais
• Verticalidade nas construções
Art Nouveau
• Uso do ferro, balaústre, corrimão, vitrais, janelas e portões, tudo em ferro trabalhando com flores ou frutos como elemento decorativo
• Guirlanda
Estela
• Placa de identificação com o nome dos falecidos
Simbologia
Anjos – cuidam das almas; com o dedo apontado para o céu significa que o falecido era uma pessoa boa e que ela vai direto para o paraíso
Guirlanda – triunfo da vida sobre a morte
Cruz – intersecção do plano material com o transcendental em seus eixos perpendiculares
Vaso – vazio; o corpo separado da alma
Globo – remete à utilização e fim do tempo de vida terrestre
Flores, frutos e folhas – vitória da alma humana sobre o pecado e a morte
Crisântemos – margaridas dos mortos; nascemos, vivemos e morremos
Coroa de flores – é a concretização do círculo da vida até a morte
Chama acesa – imortalidade
Estilo Modernista - pastilhas refrescam e higienizam o ambiente
Estilo Modernista - pastilhas refrescam o ambiente e higienizam
Escultura Renascentista - Cristo Ressuscitado em bronze
Dois dos mais antigos túmulos do cemitério. Não possuem carneira. É tipo catacumba e o corpo é coberto por um arco de tijolos presos com uma pedra angular. Estilo Barroco.
Aqui é possível observar a abóbada da catacumba. Os tijolos foram assentados com mistura de barro, palha e açúcar ou garapa
Detalhe do estilo Barroco. Possui estela de identificação
Estilo Barroco
Estilo Barroco
Estilo Barroco pois possui coluna, anjo, cruz e arco pleno
Possui estilo barroco, com anjo, coluna e capitel. Vaso grego
Túmulo de Eliazar Rodrigues Braga - possui anjo, coluna e capitel Barroco, mas o vaso é grego. Feito em mármore de Carrara
Estilo eclético, com dominância do Barroco.
Mesmo sendo em ladrilho, possui painel Renascentista.
Capela Neoclássica, portal central com 2 colunas barrocas com capitel decorado.
Estilo Art Nouveau - possui guirlanda e gradil.
Estilo Art Nouveau pois possui gradil
Feito em mármore, possui estilo eclético pois mistura o romano e o barroco.
Estilo Renascentista, mas com porta estilo Gótico.
Túmulo do fotógrafo Artêmio Mordachini. Estrutura em estilo Românico e teto em estilo Gótico.
Estilo eclético pois mescla o Gótico com Renascimento.
Estilo Gótico perfeito, sempre tentando alcançar os céus.
Estilo gótico pois possui arco pleno, feito em mármore e figuras em bronze monumentais.
Estilo Gótico
Estilo Gótico
Necrotério
Pedra localizada ao lado do necrotério e que antigamente era utilizada para autópsias.
Telhado Renascentista e porta Gótica, imitação de Igreja.
Na antiga tradição presbiteriana, os caixões eram colocados diretamente na terra.
Obelisco em mármore ofertado pela comunidade Italiana de Pederneiras para homenagear os ex-combatentes da Primeira Guerra Mundial.
Túmulo da Senhorinha dos Passos. Algumas pessoas acreditam ser milagrosa. (Santa de Cemitério)
Estilo Modernista, inspirado em Oscar Niemeyer, principalmente as curvas. Obelisco buscando o céu.
Estela escrita com letra manuscrita. Transmite sensação de acolhimento.
Estilo Egípcio - imitação da casa dos vivos.
Estilo Egípcio pois imita a casa dos vivos, buscando o conforto da alma do falecido.
Os anjos cuidam das almas. O dedo apontado para o céu significa que o falecido era uma pessoa boa e que ela irá direto para o paraíso. Cruz é a interseção do plano material com o transcendental.
Estilo Moderno, com alegoria de uma praça. No centro um globo (remete a utilização e fim do tempo de vida terrestre). A cruz é o plano material com o transcendental em seus eixos perperndiculares.
Fontes:
Eunice Maria Furlani Nicolielo – Professora
Wanda Ferreira Cardim – Artista Plástica
Maria da Glória Batista – fotografias
Um outro olhar sobre os cemitérios: refletindo à arte cemiterial sob a perspectiva das pesquisas, ações, passeios e eventos culturais. Dra. Clarisse Ismério. Revista de Teoria da História, Volume 18, número 2, Dezembro de 2017. Universidade Federal de Goiás.
Memória Pederneiras
Recordar é valorizar a história de nossa cidade. O quadro Memória Pederneiras aborda todo mês uma personalidade, prédio, evento, entre outros, que aconteceu em nossa cidade para resgatar e estimular a cultura histórica de Pederneiras.
Com pesquisa elaborada pela historiadora Anna Carolina Fonseca, todo mês o quadro MEMÓRIA PEDERNEIRAS aborda uma personalidade, prédio, evento, entre outros, que aconteceu em nossa cidade para resgatar e estimular a cultura histórica de Pederneiras.